sábado, 19 de junho de 2010

“O racismo certamente existe no Brasil e ele tem uma dimensão histórica considerável.” afirma relator da ONU.



O senegalês Doudou Diène, relator da ONU visitou o Brasil e afirma:
As Ações afirmativas e o sistema de cotas são fatores essenciais para o combate ao racismo praticado no Brasil:

“O Racismo no Brasil está presente no plano econômico, social e político. Isso inclui a educação, habitação e todos os indicadores sociais. Pode-se verificar no Brasil manifestações concretas e materiais do racismo. Uma das mais importantes é a própria invisibilidade dessas comunidades na estrutura de governo, da economia e dos meios de comunicação. É como se o Brasil vivesse em dois mundos no mesmo país. Há o mundo da rua, multicultural, vibrante e caloroso. Mas no que diz respeito às estruturas de poder, há um Brasil diferente, que não reflete essa diversidade, caracterizado pelo ocultamento de comunidades de ascendência africana e indígena, entre outras. Vi o mesmo nos meios de comunicação. Depois de gostar muito da rua brasileira, as imagens que vejo na TV parecem que vêm do cosmo. Não correspondem à rua. O Brasil tem uma peculiaridade que já observei em outros lugares onde existe também essa discriminação histórica: quando o mapa da organização social e política coincide com o mapa das etnias marginalizadas, é sinal de um racismo estrutural muito forte. Só que o racismo não se resume a isso. Existe também no âmbito cultural, dos valores e das identidades. E aí também percebi que o impacto do racismo é muito forte. Muita gente que efetivamente pertence a determinado grupo não quer ser vista como negra ou de outra determinada etnia. E quando em um país as pessoas se recusam a reconhecer aquilo que elas são é porque a ferida do racismo é muito marcada e a negação de si próprio, de sua identidade, é a expressão dessa discriminação. Percebi também que o aspecto cultural foi usado no Brasil como máscara e como álibi do racismo. Em Salvador, há uma grande vitalidade cultural da comunidade de ascendência africana, como a música, a culinária e o candomblé. No entanto, esse vigor multicultural não se traduziu em uma diminuição do racismo na cidade, nem na sua estrutura política.
As ações afirmativas são a única maneira de corrigir as injustiças. É a única forma de se trazer igualdade em um país com uma discriminação histórica tão profunda como a brasileira. Populações inteiras foram marginalizadas, apesar de sua competência ou qualidade, por conta de sua raça ou etnia. É preciso que haja ação afirmativa para corrigir essa injustiça tão forte. A ação referida deveria ser ampliada a outros setores da sociedade e não apenas à universidade. Vou aconselhar para que elas sejam estendidas para o plano político e também para o serviço público. Os partidos precisam ter opções de candidatos das comunidades. Depois, o próprio sistema democrático resolve se os elege ou não.

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