sábado, 22 de outubro de 2011

Filhos do Átomo com sotaque Inglês.








Por: João Deyvid



No ano passado (2010) os leitores de HQ tiveram a grata surpresa de ver a Marvel colocar o genial Warren Ellis como escritor da excelente revista Astonishing X-men, saber que o escritor de Authority e Planetary, estaria à frente dos mutantes, era como ver um trabalho de ciências no ensino médio ser executado por Stephen Hawking. Porém toda essa expectativa não foi correspondida de maneira significativa; nas primeiras edições vemos Ellis fazer o que ele faz de melhor, rechear a revista com conhecimento científico (ou pseudociência) dando embasamento a sua trama de forma bem interessante, mas bem dissonante do tom costumeiro da revista: longos diálogos e fatos misteriosos não conquistaram a maioria dos fãs, nem as duas revistas extras (Caixas Fantasmas) foram suficientes para tal. Ellis criou uma teia de acontecimentos que premeditavam acontecimentos grandiosos e subitamente encerra sua fase em um arco “corrido” e vazio que está longe de fazer jus a sua reputação ( que diga-se de passagem foi feita em uma carreira de sucesso no mundo dos quadrinhos).
Obstante os resultados obtidos em sua passagem abrupta, Ellis não passa pelos Filhos do Átomo sem deixar um bom legado, pois com sua chegada nasceu o título Astonishing X-men-Xenogenesis, série em 5 partes destinada a ser uma aventura fechada, porém integrante da cronologia, com um sabor “ultimate” de ser, o tom ácido do texto e os desenhos ousados de Kaare Andrews são a mistura perfeita , é possível reconhecer um certo “Eco” da fase Morrison, não sei se pela ausência de uniformes cafonas ou pelo texto apimentado.



O Enredo gira em torno de um suposto “Bum” de nascimentos mutantes no continente Africano, chegando lá os X-men se deparam com um antigo personagem da Marvel com uma nova roupagem: Sir Jim Jaspers (ele mesmo o viajante) que possui uma ligação com os fatos estranhos nos bebês mutantes. O ponto chave da revista é ver os X-men como uma equipe funcional de fato, com personagens que exercem um papel específico de forma satisfatória ao invés de ficar fazendo pose, enchendo linguiça ou protagonizando situações novelescas (como em Uncanny x-men).
Warren Ellis insiste em manter um padrão “Morrison/Whedon” no Scott que repetidas vezes expõe a capacidade de seu poder de maneira tão grande quanto à imoralidade de Emma Frost (aqui sim ela voltou a ser a Emma-perua-tarada), O fera é o porta voz da ciência maluca futurista do “Inglês Maluco” enquanto que o Wolvie e a Ororo são respectivamente o poder de Luta e o Poder de fogo da equipe. Uma ótima história, um bom ritmo, boas cenas de combate e um final que foge aos clichês do gênero mutante. Não vou me estender mais para não revelar as surpresas. Boa leitura.






Link atualizado com todas edições!



Obs: Mais um personagem do Ellis com o famoso terno branco, dessa vez é o Joshua N’dingi.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Grant Morrison analisa "superdeuses".



Supergods é o título do primeiro livro do roteirista escocês Grant Morrison (Invisíveis, All Star Superman e etc), e focará o arquétipo do super-herói.

Para Morrison, os heróis não são apenas personagens, mas arquétipos poderosos, que ao longo dos anos ajudam a refletir e prever o curso da existência humana.

Neste livro, Morrison analisa sete décadas de super-heróis fantasiados, desde os grandes como Superman e Mulher-Maravilha até o mais obscuro herói encapuzado, baseando-se em história, arte e mitologia, para fornecer a primeira crônica madura do super-herói, mostrando porque eles são importantes, porque eles sempre estarão conosco, e o que eles dizem sobre quem somos.

Supergods será lançado no dia 19 de julho, pela editora Spiegel & Grau.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Lei, a Educação e o Racismo!


Por: João Deyvid;


Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR)

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.



O que aprendemos com a leitura dessa lei? No mínimo que há uma dicotomia enorme entra Lei e aplicabilidade, o artigo que deveria obrigar os estabelecimentos educacionais de ordem pública e privada a incluírem em sua grade curricular o estudo e valorização da história e cultura Afro, fica relegada a palavras no papel, o poder político e os "empresários" do ramo educacional desdenham do que o Movimento Negro conquistou com tanto afinco. São raras as escolas que têm se preocupado com tal tema, algumas por sua incompetência institucional, triste mal do nosso País, já outras claramente ignoram a questão por serem permeadas por um "poroso" racismo entrelaçado com toda sua base educacional; digo entrelaçado, pois este racismo não reside apenas na cabeça de quem ocupa os altos postos hierárquicos escolar, mas todo o material didático -dos textos as gravuras- tomem, por exemplo, os livros de história que ainda vêm permeados pelo MITO DA DEMOCRACIA RACIAL desde a as séries iniciais, dando continuidade a falácia do País da união multi-racial pacífica.
Frente a estes problemas cabe ao bom professor, aquele que preza pelo enriquecimento cultural dos seus alunos, seguirem a antiga canção que diz :" vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer" e arregaçar as mangas para ensinar ao seu alunado a lição que já passou do tempo de ser ensinada, aqui mesmo em minha cidade vejo a iniciativa de bons profissionais que mergulham na internet e montam seu próprio material didático Afro para não desamparar seus alunos, que não devem padecer por culpa do poder público!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Kabengele Munanga fala sobre Racismo brasileiro

Abaixo trecho da entrevista de Kabengele Munanga para revista Fórum:

Meus filhos estudaram em escola particular, Colégio Equipe, onde estudavam filhos de alguns colegas professores. Eu não ia buscá-los na escola, e quando saíam para tomar ônibus e voltar para casa com alguns colegas que eram brancos, eles eram os únicos a ser revistados. No entanto, a condição social era a mesma e estudavam no mesmo colégio. Por que só eles podiam ser suspeitos e revistados pela polícia? Essa situação eu não posso contar quantas vezes vi acontecer. Lembro que meu filho mais velho, que hoje é ator, quando comprou o primeiro carro dele, não sei quantas vezes ele foi parado pela polícia. Sempre apontando a arma para ele para mostrar o documento. Ele foi instruído para não discutir e dizer que os documentos estão no porta-luvas, senão podem pensar que ele vai sacar uma arma. Na realidade, era suspeito de ser ladrão do próprio carro que ele comprou com o trabalho dele. Meus filhos até hoje não saem de casa para atravessar a rua sem documento. São adultos e criaram esse hábito, porque até você provar que não é ladrão... A geografia do seu corpo não indica isso. ...

Nos EUA era mais fácil porque começava pelas leis. A primeira reivindicação: o fim das leis racistas. Depois, se luta para implementar políticas públicas que busquem a promoção da igualdade racial. Aqui é mais difícil, porque não tinha lei nem pra discriminar, nem pra proteger. As leis pra proteger estão na nova Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. Antes disso tinha a lei Afonso Arinos, de 1951. De acordo com essa lei, a prática do racismo não era um crime, era uma contravenção. A população negra e indígena viveu muito tempo sem leis nem para discriminar nem para proteger. ...

Além do mais, o critério de cota no Brasil é diferente dos EUA. Nos EUA, começaram com um critério fixo e nato. Basta você nascer negro. No Brasil não. Se a gente analisar a história, com exceção da UnB, que tem suas razões, em todas as universidades brasileiras que entraram pelo critério das cotas, usaram o critério étnico-racial combinado com o critério econômico. O ponto de partida é a escola pública. Nos EUA não foi isso. Só que a imprensa não quer enxergar, todo mundo quer dizer que cota é simplesmente racial. Não é. Isso é mentira, tem que ver como funciona em todas as universidades. É necessário fazer um certo controle, senão não adianta aplicar as cotas. No entanto, se mantém a ideia de que, pelas pesquisas quantitativas, do IBGE, do Ipea, dos índices do Pnud, mostram que o abismo em matéria de educação entre negros e brancos é muito grande. Se a gente considerar isso então tem que ter uma política de mudança. É nesse sentido que se defende uma política de cotas.

O racismo é cotidiano na sociedade brasileira. As pessoas que estão contra cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. A própria pesquisa do IPEA mostra que se não mudar esse quadro, os negros vão levar muitos e muitos anos para chegar aonde estão os brancos em matéria de educação. Os que são contra cotas ainda dão o argumento de que qualquer política de diferença por parte do governo no Brasil seria uma política de reconhecimento das raças e isso seria um retrocesso, que teríamos conflitos, como os que aconteciam nos EUA.
Fórum - Que é o argumento do Demétrio Magnoli.

Kabengele - Isso é muito falso, porque já temos a experiência, alguns falam de mais de 70 universidades públicas, outros falam em 80. Já ouviu falar de conflitos raciais em algum lugar, linchamentos raciais? Não existe. É claro que houve manifestações numa universidade ou outra, umas pichações, "negro, volta pra senzala". Mas isso não se caracteriza como conflito racial. Isso é uma maneira de horrorizar a população, projetar conflitos que na realidade não vão existir. ...
Cada vez que se toca nas políticas concretas de mudança, vem um discurso. Mas você não resolve os problemas sociais somente com a retórica. Quanto tempo se fala da qualidade da escola pública? Estou aqui no Brasil há 34 anos. Desde que cheguei aqui, a escola pública mudou em algum lugar? Não, mas o discurso continua. "Ah, é só mudar a escola pública." Os mesmos que dizem isso colocam os seus filhos na escola particular e sabem que a escola pública é ruim. Poderiam eles, como autoridades, dar melhor exemplo e colocar os filhos deles em escola pública e lutar pelas leis, bom salário para os educadores, laboratórios, segurança. Mas a coisa só fica no nível da retórica.

E tem esse argumento legalista, "porque a cota é uma inconstitucionalidade, porque não há racismo no Brasil". Há juristas que dizem que a igualdade da qual fala a Constituição é uma igualdade formal, mas tem a igualdade material. É essa igualdade material que é visada pelas políticas de ação afirmativa. Não basta dizer que somos todos iguais. Isso é importante, mas você tem que dar os meios e isso se faz com as políticas públicas. Muitos disseram que as cotas nas universidades iriam atingir a excelência universitária. Está comprovado que os alunos cotistas tiveram um rendimento igual ou superior aos outros. Então a excelência não foi prejudicada. Aliás, é curioso falar de mérito como se nosso vestibular fosse exemplo de democracia e de mérito. Mérito significa simplesmente que você coloca como ponto de partida as pessoas no mesmo nível. Quando as pessoas não são iguais, não se pode colocar no ponto de partida para concorrer igualmente. É como você pegar uma pessoa com um fusquinha e outro com um Mercedes, colocar na mesma linha de partida e ver qual o carro mais veloz. O aluno que vem da escola pública, da periferia, de péssima qualidade, e o aluno que vem de escola particular de boa qualidade, partindo do mesmo ponto, é claro que os que vêm de uma boa escola vão ter uma nota superior. Se um aluno que vem de um Pueri Domus, Liceu Pasteur, tira nota 8, esse que vem da periferia e tirou nota 5 teve uma caminhada muito longa. Essa nota 5 pode ser mais significativa do que a nota 7 ou 8. Dando oportunidade ao aluno, ele não vai decepcionar.
Foi isso que aconteceu, deram oportunidade. As cotas são aplicadas desde 2003. Nestes sete anos, quantos jovens beneficiados pelas cotas terminaram o curso universitário e quantos anos o Brasil levaria para formar o tanto de negros sem cotas? Talvez 20 ou mais. Isso são coisas concretas para as quais as pessoas fecham os olhos. ...

O racismo é uma ideologia. A ideologia só pode ser reproduzida se as próprias vítimas aceitam, a introjetam, naturalizam essa ideologia. Além das próprias vítimas, outros cidadãos também, que discriminam e acham que são superiores aos outros, que têm direito de ocupar os melhores lugares na sociedade. Se não reunir essas duas condições, o racismo não pode ser reproduzido como ideologia, mas toda educação que nós recebemos é para poder reproduzi-la.
Há negros que introduziram isso, que alienaram sua humanidade, que acham que são mesmo inferiores e o branco tem todo o direito de ocupar os postos de comando. Como também tem os brancos que introjetaram isso e acham mesmo que são superiores por natureza. Mas para você lutar contra essa ideia não bastam as leis, que são repressivas, só vão punir. Tem que educar também. A educação é um instrumento muito importante de mudança de mentalidade e o brasileiro foi educado para não assumir seus preconceitos. O Florestan Fernandes dizia que um dos problemas dos brasileiros é o “preconceito de ter preconceito de ter preconceito”. O brasileiro nunca vai aceitar que é preconceituoso. Foi educado para não aceitar isso. Como se diz, na casa de enforcado não se fala de corda. ...

Quando a Folha de S. Paulo fez aquela pesquisa de opinião em 1995, perguntaram para muitos brasileiros se existe racismo no Brasil. Mais de 80% disseram que sim. Perguntaram para as mesmas pessoas: "você já discriminou alguém?". A maioria disse que não. Significa que há racismo, mas sem racistas. Ele está no ar... Como você vai combater isso? Muitas vezes o brasileiro chega a dizer ao negro que reage: "você que é complexado, o problema está na sua cabeça". Ele rejeita a culpa e coloca na própria vítima. Já ouviu falar de crime perfeito? Nosso racismo é um crime perfeito, porque a própria vítima é que é responsável pelo seu racismo, quem comentou não tem nenhum problema.