sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Zumbi e a Consciência Negra!



Se pensamentos racistas puderem ser neutralizados para se compreender o feito de Zumbi, isso pode sinalizar o início de uma era em que ter descendência africana seria uma honra.

A história de Zumbi vai muito além de uma simples reação contra o racismo. Por mais de 80 anos Palmares foi uma entidade autônoma. Com preceitos políticos africanos, os líderes de Palmares governaram milhares de pessoas. Trabalhando com situações difíceis, há mais de 300 anos, foram heróis. Tiveram a oportunidade de governar, se organizar, socializar e procriar num sistema de vida social maduro.

Social e culturalmente, os Estados Unidos há muito tempo decidiram abandonar qualquer ilusão sobre nacionalidade comum e adotaram o seguinte sistema: pessoas das raças “branca” e “negra” vivem em culturas diferentes, com diferentes padrões de casamento e amizade – exceções acontecem, mas não em número suficiente para alterar práticas culturais. Para o americano branco, fazer parte da “raça branca” é muito mais importante do que ser americano. Um francês “branco”, nos Estados Unidos, seria mais bem aceito pelos americanos brancos do que um americano negro.

Embora esse sistema cause problemas para ambas as raças, ele tem tido o efeito de estimular uma mentalidade combativa entre os negros. Protestos em massa; um alto grau de consciência negra; e o firme propósito de chamar a atenção para a injustiça racial praticada pelos brancos, permitiram a ascensão do negro americano. Esse posicionamento fez com que muitos negros alcançassem um melhor padrão de vida, melhor até do que em outros países. No Brasil, a filosofia “democratizante” só serviu para tornar a consciência negra mais difusa.

As muitas variações de níveis de cor tornam difícil definir se a pessoa é branca ou negra, diferentemente do que ocorre nos EUA. Aqui, o mulato encontra “saídas” que o impedem de ter uma consciência negra. Por ter a pele clara, sua descendência africana não é tão levada em conta quanto nas terras do Tio Sam. Certamente, o dilema brasileiro é causado pelo fato de que atos e práticas degradantes contra pessoas de descendência africana sempre foram comuns. Podem até estar aumentando, com maior competição, mais imigração da Europa, influência cultural dos Estados Unidos e uma tendência cultural que força todos a serem brancos. Está cada vez mais difícil ignorar o preconceito com um comentário leve e bem-humorado de que a classe e não a raça é o que importa. As escolhas nesse dilema parecem ter elementos insatisfatórios. Dar a outra face nunca resultou em tratamento melhor da parte de pessoas racistas. Por outro lado, protestos de negros embora tenham potencial para melhorias, fazem muito pouco para promover igualdade entre as pessoas. A melhoria para os negros americanos tem sido acompanhada de preocupação racial, alienação cultural e bastante tensão entre negros e brancos.

Atualmente, tanto nos EUA quanto no Brasil existem pessoas que são racistas devotos e também aqueles para quem a descendência africana representa uma doença. Se as influências desses dois tipos de pensamento puderem ser neutralizadas pelo tempo necessário para se compreender o feito que Zumbi e outros representaram, isso poderia sinalizar o início de uma era no Brasil, em que ter descendência africana seria uma honra.


fonte: http://racabrasil.uol.com.br/Edicoes/106/artigo38880-1.asp

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